
Mesmo esquecido pelo cinema brasileiro, Anselmo Duarte deixa seu legado para as próximas gerações

Antes de Meirelles, vieram Glauber Rocha, José Mojica Marins, Walter Salles, todos diretores-criadores, com estilo próprio. Mesmo que não apreciemos os filmes deles, temos que respeitar sua competência.
Porém antes de todos eles, em uma época onde o Brasil nem constava no “mapa” do cinema

Em 1962, Anselmo Duarte, ator de filmes como Sinhá-Moça e Aviso aos Navegantes resolveu dirigir uma história a frente de seu tempo. Além de dirigir, ele roteirizou (baseado em obra de Dias Gomes) a saga de um homem humilde, Zé do Burro ( Leonardo Villar) que, após ver seu melhor amigo, o burrinho adoecer, precisa cumprir uma promessa feita em um terreno de candomblé de carregar uma pesada cruz por um longo caminho e deixá-la dentro da igreja de Santa Bárbara, onde a oferecerá ao padre local. Sempre acompanhado por sua mulher Rosa (Glória Menezes), o homem descobre que a missão não é fácil e que o padre não deixará que sua cruz entre na igreja, causando uma comoção imensa na pequena cidade.
Com um roteiro ousado e muito inteligente, Anselmo Duarte realizou um feito até hoje não repetido, trouxe ao Brasil a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além do prêmio especial do júri no Festival de Cartagena na Colômbia, o Golden Gate de melhor filme no Festival internacional de San Francisco e foi indicado ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar.

Infelizmente a carreira de Anselmo após o filme foi prejudicada por divergências ideológicas e inveja no próprio meio profissional e ele não obteve o mesmo sucesso.
Na madrugada deste Sábado, Anselmo Duarte morreu após ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico. Seu legado para o cinema nacional é eterno, mesmo com a fraquíssima memória do povo que tende a somente valorizar o novo, esquecendo-se assim de quem “deu a cara a tapa” muito antes, quem ousou sem muito patrocínio, sem o apoio de uma rede Globo.
Anselmo Duarte e seu “O Pagador de Promessas” é uma lição a todos os que pretendem fazer cinema no país e aos que ainda hoje, quase 50 anos depois, colocam a culpa pelo pouco público na falta de investimento. Anselmo Duarte ensinou como um brasileiro pode ir sozinho a Cannes e trazer o prêmio máximo: “Faça melhor!”
10 Comentários
Parabéns Octavio por mais essa maravilha!
www.faixa-livre.blogspot.com
ACESSE, SIGA E COMENTE!e
Octavio, sua escrita é fascinante!
Parabéns ao Vertigo!
O pagador de promessas é um dos melhores filmes que o Brasil já fez, mas por incrível que possa parecer, é praticamente desconhecido pelo público moderno.
Parabéns ao Vertigo pelo espaço dado a esse assunto.
Octavio, você tem alma de jornalista! Parabéns pela homenagem merecidíssima a este grande homem e grande profissional.
Dei uma olhada rápuda pelo blog e vi que você sempre faz especiais temáticos....mas não vi nenhum sobre Mazzaropi, vai a dica! Só você, com sua escrita fantástica e sua juventude, poderão passar para o público jovem quem foi esta personalidade! Eu li seu texto falando sobre o José Mojica e achei estupendo! Queria muito ver você resgatando Amácio Mazzaropi!
Quanto a dúvida sobre minha idade, tenho 26 anos, mas com cara de 19...srrsrsr
Sua sugestão é muito boa, Mazzaropi é uma figura de extrema importância para o cinema brasileiro e em breve, se possível, irei escrever um especial sobre sua vida e obra.
Em nome do Vertigo Pop, agradeço sua atenção. Continue conosco!
Maravilhosa essa homenagem a um gênio esquecido....esse filme foi um dos melhores já feitos no Brasil e muita gente nunca viu. Ou então se lembram da minissérie da Globo que não faz nem sombra pra qualidade dessa obra.