Fugindo das discussões entre religiões e falando sobre o homem Chico Xavier, Daniel Filho coloca na tela um de seus filmes mais corretos
A importância de Chico Xavier transcende qualquer noção de religião ou crença, vai além da fé e fala direto aos corações dos homens.
Daniel Filho tomou para si a responsabilidade de contar a história deste homem, tão profundamente humano em sua vaidade e bom humor, porém que conseguia trazer paz a famílias atormentadas pela perda, sem que para isso pedisse nenhuma recompensa material. Havia várias formas de se contar a vida de Chico Xavier, pelo ângulo espírita traria riscos de se tornar uma obra limitada a um público específico, se contasse pelo ponto de vista do homenageado, incorreria nos mesmos erros de muitas produções autobiográficas que celebram somente as vitórias esquecendo-se dos erros, tornando-o um homem divino. Daniel Filho acerta ao focalizar o homem por trás do mistério, sem tomar partido algum, deixando a interpretação de sua vida livre para cada pessoa que assistir.
A obra claramente se divide em três atos e a junção de cada ato se faz de forma pouco ousada. No primeiro acompanhamos Matheus Costa como Chico em sua infância, mostrando os primeiros sinais de sua paranormalidade. É o ato menos inspirado e que arrasta-se com pouca emoção.
Quando Ângelo Antônio entra em cena como o personagem já mais velho, o filme ganha em ritmo e torna-se mais emotivo. Impressionante o trabalho de Ângelo na criação do personagem, com todas as suas complexidades psicológicas expostas. Seu guia espiritual Emmanuel vivido por André Dias não tem a mesma sorte, padecendo de uma incrível falta de carisma, tornando-se algo menor do que poderia ser nas mãos de um ator mais habilidoso.
Não há como negar que o filme ganhe com a entrada de Nelson Xavier no terceiro ato, em uma interpretação digna de valorosas palmas. Além do trabalho estupendo de caracterização, sua sutileza resgata gestos e expressões tão verdadeiros que impressiona.
A direção de Daniel Filho, usualmente com uma mão pesada advinda da teledramaturgia, surpreende por demonstrar uma leveza muito bem vinda, excetuando-se apenas uma cena de humor que, mesmo satisfatória no que se propõe, destoa do resto da produção exatamente por trazer o ranço da mão pesada que havia citado anteriormente.
O elenco faz um ótimo trabalho, destacando-se a sensibilidade de Giovanna Antonelli e Christiane Torloni que mostram-se o coração da obra. Tony Ramos também merece reconhecimento por representar talvez o personagem mais importante na trama, além do próprio homenageado, por simbolizar cada um de nós, com todos os questionamentos e dúvidas inerentes ao tema.
“Chico Xavier”, além de ser o melhor filme dirigido por Daniel Filho até o momento, acerta aonde muitos errariam: Não julga, não condena, não intenciona mistificar, ele humaniza o personagem e deixa que cada espectador saia da sessão pronto para criar seu próprio conceito a respeito dele. Vale a pena assistir!!
Cotação: 8,5/10
22 Comentários
Gostei do enfoque dado, vi o trailer e me emocionei, achei sua crítica muito boa. parabéns!
ainda não assisti, mas pelo jeito será um filme muito bom, mostrando a qualidade de nosso Cinema que fica cada vez melhor.
Abs
Vicente
Parabens mais uma vez....
Assiti o trailer e me emocionei com os atores, todos muito bons.
Paulínia tem investido em muitas produções nacionais, tem grandes estúdios e infraestrutura boa, há dois anos acontece o festival de cinema de Paulinia nos moldes de Gramado. Estou ansiosa pra ver o filme.
Gostei da sua crítica, parabéns! Foi sensível, valorizou tanto a atuação de cada um quanto a história.
Agradeço a você Octavio pelo respeito ao tema!
Infelizmente o protestantismo no Brasil copiou o modelo americano, centrado no materialismo e acrescido de pouco respeito a filosofia/religião do próximo, que não coaduna com os pensamentos apresentados por pastores que induzem /conduzem seus rebanhos a falta de ética e civilidade.
Aqui se resume toda a essência de sua bela postagem:
“Chico Xavier”, além de ser o melhor filme dirigido por Daniel Filho até o momento, acerta aonde muitos errariam: Não julga, não condena, não intenciona mistificar, ele humaniza o personagem e deixa que cada espectador saia da sessão pronto para criar seu próprio conceito a respeito dele. Vale a pena assistir!!
Hebert Vilaça
Cada pessoa tem a sua visão única deste homem...
Mas ele foi um homem com virtudes e defeitos, medos e inseguranças...
Como sempre , espero ler sua crítica para seguir rumo ao cinema mais próximo.
Otávio , você é o meu guru cinematográfico!
Quando ao fato de o Daniel Filho humanizar o personagem, creio que o fez porque deve ter estudado muito a vida do Chico antes de se meter a fazer esse filme. Acho que ele apenas mostrou quem de verdade era o Chico, a pessoa linda que era, sem por nem tirar.
Vou ver o filme e volto a trocar figurinhas contigo, meu comentarista brasileiro preferido!
(Mirian Aguirre)
Parabéns pela crítica!!
Eu sempre tive curiosidade em conhecer um pouco mais sobre a vida de Chico Xavier... porém espiritismo não é meu gênero favorito de filmes, mas segundo sua crítica esse filme não é um desses e sim uma biografia que mostra todos os pontos positivos e negativos da vida de Chico Xavier. Desse modo assistirei com certeza!!
Abraços
Dudu CTA
Parabéns pela ótima crítica...
Este filme é fabuloso em toda a sua plenitude e por abordar a vida, deste que foi e será um dos grandes guias espirituais brasileiros, Chico Xavier. Um excelente representante brasileiro em uma cerimônia do Oscar. Parabéns!!! Elenco, direção e todos que contribuíram para sua finalização. Também concordo, quando enfatiza a atuação do ator que interpreta o mestre Emannuel. Na grandeza da escolha deste elenco poderiam tê-lo colocado em outro papel e presenteado alguém com mais firmeza para caracterizá-lo. Para mim, é o filme do ano.
Daniella (cta)