Martin Scorsese mostra que sabe falar com todos os públicos ao entregar um de seus melhores filmes
Detentor de 11 indicações ao Oscar desse ano, muitos devem se perguntar o que uma aventura infanto-juvenil como A Invenção de Hugo Cabret tem de tão especial para conquistar tantas atenções da academia de cinema. Talvez o principal diferencial de Hugo em relação a tantas outras produções desse gênero esteja na mão de seu “maestro” Martin Scorsese, que pela primeira vez deixa de dirigir e produzir um longa adulto para se arriscar em um terreno antes dominado por outro veterano, Spielberg. Um risco que valeu a pena, com Scorsese entregando aquele que talvez seja seu mais belo trabalho em tempos. E aí se justifica tamanha comoção em torno de sua produção. Desde a cenografia (linda), passando pelo roteiro, interpretações e a utilização da técnica do 3D, Hugo é uma experiência única e que mostra como ainda é possível fazer cinema misturando o moderno e o tradicional sem distorcer o resultado final.
A Invenção de Hugo Cabret, adaptado da obra infanto-juvenil de Brian Selznick, é uma celebração ao cinema e mostra que seu diretor está em ótima forma e que ainda tem muito a oferecer ao seu público, mesmo depois de anos à frente de tramas adultas e complexas. Produções que lhe deram segurança suficiente para que pudesse dar um passo atrás e contar uma história simples e que presta uma homenagem à sétima arte que ele tanto ama e onde fez história.
A Invenção de Hugo Cabret é a incrível aventura de um garoto esperto e despachado cuja busca por desvendar um segredo deixado para ele pelo pai transformará a sua vida e a daqueles ao seu redor, revelando um lugar seguro e amável que ele poderá chamar de lar.
Uma premissa simples mas que ganha outra projeção nas mãos de Martin Scorsese, desde seu roteiro que privilegia um texto inteligente e cheio de citações ao universo cinematográfico, até a bela fotografia que aliada ao 3D, explode na tela., no bom sentido da palavra. A técnica, hoje sub-utilizada, aqui alcança sua perfeição.
Se em Avatar James Cameron mostrou o que é possível fazer com a técnica, Scorsese vai mais além do que seu colega de ofício e utiliza o 3D não apenas como um mecanismo para criar profundidade cênica e fazer objetos saltarem na tela. O diretor, experiente como só ele, faz da técnica sua aliada para contar a história e assim levar o telespectador a viajar junto com seu protagonista. Uma criação quase orgânica e longe da frieza tão comum na maioria das produções. Em A Invenção de Hugo Cabret ciência e arte não se opõem, se complementam.
O elenco liderado pelos ótimos e promissores Asa Butterfield ( que vive o protagonista Hugo e é a alma do filme) e Chloe Moretz (que se destacou em Kick-Ass e é o talento em pessoa) ajudam a tornar “real” essa bela experiência ao lado de Ben Kingsley e Christopher Lee. Até mesmo Sacha Baron Cohen está bem, longe de sua ironia habitual presente em seus mais recentes filmes. Um ganho na carreira do ator.
Com A Invenção de Hugo Cabret, Martin Scorsese mostra que as vezes menos é mais. E em um momento em que o cinema parece olhar para o passado, o diretor presta um tributo digno à sétima arte.
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